Em 50 anos, áreas de oceanos sem oxigênio quadruplicaram,
revela estudo
Consequência das mudanças climáticas, o problema inviabiliza
a vida marinha e a dos homens que sobrevivem do litoral
Paloma Oliveto Mark Wilson/Getty Images/AFP
Novas leis e melhores práticas agrícolas eliminaram
praticamente todas as áreas sem O2 na Baía de Chesapeake, nos Estados Unidos
Ainda há quem pense que as florestas são o “pulmão do
mundo”. Porém, é dos oceanos que vem o oxigênio necessário para garantir a vida
na Terra. Ele, contudo, está sumindo do mar. Um estudo publicado na revista
Science revela que, nos últimos 50 anos, a quantidade de água com zero O2 na
composição quadruplicou. Em zonas costeiras, como estatuários e mares, locais
com baixa concentração do elemento aumentaram mais de 10 vezes desde a década
de 1950. As perspectivas não são boas. À medida que a temperatura do planeta
cresce, a tendência é só piorar, avisam os cientistas.
“O oxigênio é
fundamental para a vida nos oceanos. O declínio do elemento está entre os
efeitos mais sérios da atividade humana no meio ambiente da Terra”, afirma Lisa
Levin, bióloga oceanógrafa da Universidade da Califórnia em San Diego e uma das
autoras do trabalho. De acordo com ela, as consequências não são negativas
apenas para a vida marinha. No que diz respeito à atividade econômica
dependente do litoral, como o turismo e a hotelaria, todos têm a perder,
recorda Levin. “As reverberações dos ecossistemas doentes no oceano podem ser
estendidas a hotéis, restaurantes, motoristas de táxi e tudo mais.”
O estudo faz parte do projeto GO2NE (Rede Oxigênio Oceânico
Global), um grupo de trabalho criado em 2016 pela Comissão Intergovernamental
Oceanográfica das Nações Unidas. De acordo com Lisa Levin, o artigo publicado
na Science é o primeiro a analisar causas, consequências e soluções para a
queda nos níveis de oxigênio nos oceanos e nas águas costeiras. No trabalho, os
cientistas destacam os principais riscos desse problema para o oceano e a
sociedade, e o que é necessário para manter a saúde e a produtividade das águas
do planeta.
De acordo com Vladimir Ryabinin, secretário executivo da
Comissão Internacional de Oceanografia, instituição que formou o grupo GO2NE,
aproximadamente metade do oxigênio da Terra vem dos oceanos. “Porém, os efeitos
combinados do escoamento de nutrientes e as mudanças climáticas estão
aumentando o número e o tamanho das zonas mortas no oceano aberto e nas águas
costeiras”, lamenta.
Zonas mortas são áreas como o Golfo do México, em que a
concentração de oxigênio é tão baixa que muitos animais sufocam e não resistem.
Como os peixes evitam essas regiões, seus hábitats ficam restritos e eles se
tornam mais vulneráveis a predadores ou à pesca. Mas o problema vai além das
zonas mortas, alerta Ryabinin. Mesmo pequenos declínios no nível do elemento
podem comprometer o crescimento em animais, atrapalhar a reprodução e levar a
doenças ou à morte. O problema também pode desencadear a liberação de químicos
perigosos, como óxido nitroso, um gás de efeito estufa até 300 vezes mais
poderoso que o dióxido de carbono, além de sulfeto de hidrogênio tóxico.
Enquanto alguns animais podem sobreviver nesses locais, no geral, a
biodiversidade sofre grande redução.
Aquecimento O
maior culpado pela falta de oxigênio no oceano aberto são as mudanças
climáticas. O aquecimento da água dificulta que o elemento alcance o interior
do mar. Além disso, à medida que toda a massa aquática fica mais quente, ela
segura menos oxigênio. Em regiões costeiras, o excesso da poluição vinda da
terra faz com que as algas se proliferem, o que drena o O2, à medida que elas
morrem e se decompõem. Para piorar, os animais também precisam de mais oxigênio
quando a temperatura da água está maior.
Além do ecossistema marinho, a vida das pessoas na
superfície do planeta está sendo afetada, especialmente nos países em
desenvolvimento. Pescadores podem ter dificuldade de encontrar outros locais
para desenvolver sua atividade quando o baixo oxigênio obriga os peixes a
procurar outros habitats. Nas Filipinas, por exemplo, a morte de peixes em uma
única cidade se traduziu em perdas econômicas de mais de US$ 10 milhões.
Recifes de corais, uma atração turística-chave em muitos países, também podem
desaparecer, sem a quantidade necessária de O2.
Valdo Virgo/CB/D.A
Press
Soluções
Para enfrentar o problema, o mundo precisa agir de três
formas, segundo os pesquisadores. A primeira é se concentrar nas causas
principais: poluição de nutrientes e mudanças climáticas. Enquanto nenhuma das
duas questões é simples de resolver, os passos necessários podem beneficiar
tanto os seres humanos quanto o meio ambiente. “Sistemas sépticos e sanitários
mais eficientes podem proteger a saúde humana e manter a poluição fora da água.
Cortar as emissões de CO2 por combustíveis fósseis não apenas evita os gases de
efeito estufa, mas impede o lançamento de poluentes atmosféricos muito
perigosos, como o mercúrio”, afirma Lisa Levin.
A outra medida importante é a proteção da vida marinha
vulnerável. Segundo a equipe do GO2NE, poupar os peixes de estresse extra é
possível ao se criar áreas protegidas ou zonas em que a pesca é proibida em
áreas às quais os animais recorrem para escapar do pouco oxigênio. Por fim,
melhorar o rastreamento das zonas mortas é essencial, apontam os cientistas.
Intensificar o monitoramento, especialmente nos países em desenvolvimento, além
de criar modelos para identificar pontos de maior risco são ações importantes
na busca de soluções.
“Podemos resolver esse problema”, acredita Denise Breitburg,
principal autora do estudo e pesquisadora do Instituto Smithsonian. “Enfrentar
as mudanças climáticas requer um esforço global, mas mesmo ações locais podem
ajudar a evitar o declínio de oxigênio causado pela poluição de nutrientes”,
disse, em nota. Segundo a cientista, na Baía de Chesapeake, o maior estuário
norte-americano, a contaminação por nitrogênio caiu 24% graças ao tratamento de
esgoto, à melhoria nas práticas agrícolas e a leis bem-sucedidas, como o Ato do
Ar Limpo. Lá, as áreas com oxigênio zero praticamente desapareceram.
Branqueamento de
corais cresce há 40 anos
Os recifes de corais de todo o mundo estão ameaçados pelo
aquecimento global, de acordo com artigo publicado na revista Science. Pela
primeira vez, uma equipe internacional de pesquisadores mediu a crescente taxa
de branqueamento de corais ao longo dos trópicos nas últimas quatro décadas.
“O tempo entre os eventos de branqueamento em cada local
diminuiu cinco vezes nas últimas três a quatro décadas, desde o início dos anos
1980”, diz o principal autor, Terry Hughes, diretor do Centro de Excelência
para Estudos de Recifes de Coral (Coral CoE). “Antes da década de 1980, o
branqueamento maciço de corais era incomum, mesmo durante condições fortes do
El Niño. Mas, agora, os eventos repetidos de clareamento em escala regional e a
mortalidade em massa de corais se tornaram a regra, e não a exceção, no mundo,
já que as temperaturas continuam a aumentar.”
O branqueamento é uma resposta ao estresse causado pela
exposição dos recifes de coral a temperaturas elevadas do oceano. Quando o
clareamento é severo e prolongado, muitos dos corais morrem. Leva-se ao menos
uma década para substituir as espécies que crescem mais rapidamente. “Os
recifes são vítimas de uma era dominada pelo homem, o antropoceno”, diz Mark
Eakin, da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos. “O
clima aqueceu rapidamente nos últimos 50 anos, tornando o El Niño perigoso para
os corais. Agora, estamos vendo o surgimento de branqueamento em todos os
verões”, alerta.
Somente a Grande Barreira de Corais, na Austrália, sofreu
quatro branqueamentos desde 1998, incluindo os eventos consecutivos em 2016 e
2017, o que causou danos sem precedentes. “No entanto, o governo australiano
continua a apoiar os combustíveis fósseis”, diz Hughes. “Esperamos que nossos
resultados ajudem a estimular ações mais fortes, necessárias para reduzir os
gases de efeito estufa na Austrália, nos Estados Unidos e em outros lugares do
planeta”, conclui. Tomado de el correio brasiliense
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